Gosto de partilhar à mesa. Partilhar permite-nos provar mais coisas do que se cada pessoa escolher algo apenas e só para si. Mas também há encanto em comer algo sozinho, do início ao fim, saboreando todas as garfadas e colheradas. Infelizmente, este prazer glutão é-me roubado com frequência.
Anita também adora partilhar. Fá-lo de uma forma tão generosa que o último bocadinho é dividido múltiplas vezes, como uma função matemática, f(x) = 1/x, em que por muitas garfadas que se dêem, o que resta no prato tende para 0 sem nunca lá chegar. Isto é tudo muito lindo e romântico quando ambos negociamos o que vamos escolher. Ouvimo-nos e debatemos os prós e os contras com muito mais classe que os debates das presidenciais de 2021. O problema está nos momentos em que decidimos que cada um escolhe o seu.
Todas as cartas são diferentes e, sejam grandes ou pequenas, têm sempre opções mais arriscadas e opções mais certeiras. O truque está em saber quando pender para cada um dos lados. Pode aprender-se a escolher (matéria para um post futuro) mas há sempre uma base de intuição e sensibilidade. E, seja qual for a situação, Anita vai querer provar o que eu escolhi. Normalmente eu não tenho vontade de provar o que ela escolheu, senão tinha sugerido pedirmos para partilhar, não é? Isso não é tão claro para Anita, que tem sempre curiosidade nos meus pedidos e, ao provar, sofre uma chicotada psicológica ao perceber que eu escolhi melhor e, portanto, gosta mais do que eu pedi. E, com mais uma garfada, lá se foi o meu encanto de comer algo sozinho do início ao fim.
Tentar explicar este descontentamento é inútil. Tão inútil que até já aconteceu eu ouvir "não quero pedir sobremesa para mim, quero só provar da tua". As coisas a que uma pessoa se sujeita por amor...
Garibaldi