Enquanto epicuristas estamos constantemente na procura do prazer, de encontrar e saborear a melhor versão de tudo o que se come e se bebe. Ter consciência da subjetividade do gosto e, ao mesmo tempo, saber que o palato se educa, deixa-nos logo à partida num ingrato impasse entre confiar na nossa própria percepção ou confiar na opinião de pessoas com mais conhecimento do que nós na matéria em questão.
Vamos começar pelo prato sobre o qual não há consenso absolutamente nenhum: a francesinha. É infrutífera a procura pela melhor francesinha. É um conceito que simplesmente não faz sentido nenhum. Há sim francesinhas favoritas e cada um tem a sua. A minha teoria é que a francesinha favorita de cada pessoa estará intrínsecamente ligada à primeira francesinha que comeu na vida. Pela disposição dos elementos, pelo pão ser torrado ou prensado ou não, pelas características do molho. Ponto a ter em consideração: francesinha com molho que leva natas não é francesinha. Pronto, já disse, está dito. Ultimamente divirto-me imenso a ver os crimes cometidos perante a instituição Francesinha na página Cursed Francesinhas, uma espécie de Comidas Feia dedicada apenas às variações hediondas que por aí fazem deste prato que nos é tão querido.
Quão melhor é um Pastel de Belém perante um muito bom pastel de nata? Fará sentido dizer que há um único sítio onde se comem os melhores ovos moles? Serão os lanches mistos da Belo Mundo uma competição desleal perante todos os outros lanches mistos? Poderá eleger-se o melhor doce da casa de Portugal? Terá sido mesmo a maior feijoada do mundo, servida na ponte 25 de abril, lavada com apenas uma garrafa de Fairy?
No mundo dos vinhos, reina a especulação e a lei da oferta e procura, embora aí acreditemos mais facilmente que nem sempre o mais caro é sinónimo de melhor. Não haverá Vouvrays melhores que Champagnes? A certificação de origem controlada prevê a proteção da venda de imitações ou embustes, mas não previne que um semelhante produto que não use a mesma denominação não seja melhor.
As certificações de produção biológica não estão ao alcance de todos, o que quer dizer que com os conhecimentos certos, possamos comprar hortícolas de qualidade superior por um preço menor a um qualquer casal de velhinhos que trabalha a terra da mesma forma que a fez durante toda a sua vida. Resta-nos ir estudar e procurar. Vamos por aí a fora a comer e beber tudo.
Garibaldi