O mar ao fundo e o futuro à mesa. Foi assim que senti a experiência desta manhã. Quando espreitei no site a carta do Seiva - cozinha do mundo baseada em plantas - fiquei pouco surpreendida. A minha primeira impressão foi totalmente condicionada pela expectativa. Ou talvez pelo desejo de “mais um sítio com coisas diferentes” para eu satisfazer as minhas necessidades de novidade. Como na vida, nem tudo é o que parece. É preciso entrar e sentir. Há coisas que não conseguimos mesmo explicar. O aconchego está na decoração, nas texturas, na luz, nos detalhes de quem traz os talheres à mesa ou substitui os guardanapos, nas sugestões do chef e no mar a olhar-nos de soslaio.
Cada segundo no Seiva é um mergulho no mundo de David Jesus. Tem a força das marés vivas e a paixão de um primeiro beijo ao pôr do Sol.
Há comida durante todo o dia. Há fermentados e produtos da época. Há couve flor assada na areia e paelha com arroz bomba. Há subtilezas espontâneas resultado de uma cozinha simbiótica em equilíbrio com o meio. Há vizinhos que entram pela porta de trás como quem se faz família. Há coisas “fora da carta” que podem chegar da lota, da quinta ou da horta. Há espaço para arriscar, para ser consensual e para surpreender.
O David consegue integrar a profundidade das aprendizagens que trouxe de restaurantes como o DiverXo, o Quique DaCosta, o Paparico ou o Frantzen e fazer-nos sentir que podíamos entrar com areia nos pés. Tem 25 anos e acaba de abrir o seu primeiro restaurante. Isto não é o meu ponto de chegada é o meu ponto de partida - disse.
O David trabalha em cozinhas desde os 16 anos, é um espírito de luta e resiliência e acredita que o caminho se faz caminhando. Viu pessoas deixarem centenas de euros nos restaurantes por onde trabalhou nos últimos dez anos. Aqui, prefiro ter mais pessoas à mesa do que valores absurdos nos pratos - afirma.
A cada palavra do David, comovente e apaixonado, sobre os planos para o futuro, sobre as ideias que se hão-de concretizar, sinto que Leça da Palmeira acaba de receber um presente. Um restaurante onde precisamos de nos reunir mais vezes - num lugar de respeito pelo planeta, pelas pessoas e por aquilo que somos.
Há histórias que precisam ser contadas, a do David Jesus dá vontade de saltar para o fim, tal é a curiosidade pelo que há-de vir.
Anita
