Esta pergunta que parece muito simples acarreta consigo um grande peso, o peso da expectativa. Os gostos são subjetivos, é certo, mas há gostos que podem ser mais fundamentados do que outros. Os gostos dependem sempre das referências de quem avalia. A resposta a esta pergunta tem tantas camadas quanto uma boa massa folhada.
Em Portugal temos uma tendência para comer tudo demasiado cozinhado. Vegetais, carne, peixe, marisco, massa, uma grande percentagem de quem nasceu e cresceu neste país vai provavelmente responder “está cru” perante qualquer alimento que esteja cozinhado no ponto correto. Isto vai mudando gradualmente à medida que somos apresentados à cozinha com mais técnica, seja através de amigos, visitas a restaurantes ou televisão. Vamos aprendendo mais e mais e construindo a nossa literacia de palato. À medida que vamos experimentando coisas cada vez melhores, a nossa escala vai esticando. Por conseguinte, tudo aquilo que comemos antes disso pode mudar de lugar na escala.
A resposta à pergunta “É bom?” acaba então por depender também da literacia de palato de quem pergunta. Para quem tem um palato iliterado, algo estar bom é simplesmente estar comestível e literalmente não saber mal. Basta o que está no prato ser semelhante àquilo que a pessoa tem como referência para estar bom. Quem toda a vida comeu brócolos cozidos acinzentados e a desfazerem-se, vai achar que isso é bom e estranhar uns brócolos cozidos ainda com uma cor verde viva e com uma textura de vegetal e não de puré. Da mesma forma que quem cresceu a comer queijo flamengo e o queijo da serra era um luxo de dia de festa, tudo o que seja diferente disso não é bom ou não lhes diz nada.
A última e mais difícil camada a analisar quando nos perguntam se algo é bom, depende da capacidade de encaixe à crítica de quem pergunta. Depende da relação que temos com essa pessoa. Depende se estamos dispostos a abanar as estruturas dessa pessoa. Depende também se somos aquela besta que afirma que só diz as verdades e que o seu maior defeito é ser demasiado frontal. Não vou responder da mesma forma a quem me serve num snack bar e a quem diariamente debate receitas comigo. Por vezes, quem nos pergunta se algo está bom está só a pedir um abraço como agradecimento ao ato de cozinhar e de servir. E eu adoro dar abraços.
Garibaldi