Nós e os outros. Nós somos normais. Os outros são exóticos. Comem coisas esquisitas. Animais estranhos, temperos estranhos, pratos estranhos. Mas nós não, nós somos normais.
Gafanhotos? Nem pensar. Chuchar cabeças de camarão, uma delícia. Cão? Deus me livre. Bom é leitão. Morcegos? Só no zoo. Umas codornizes até marchavam. Cobra? Nem de borla. Todos os anos como lampreia.
A nossa educação desde cedo nos devia trazer o senso que nós somos os outros aos olhos dos outros. E que a nossa cultura é tão válida quanto outra qualquer. Olhar os outros e a sua cultura através desse prisma permitiria uma maior aceitação e até mesmo alguma curiosidade. Muitos portugueses acham que um caril é um caril, estamos longe de distinguir um jaipur de um biryani de um korma. Chamar só caril a tudo isto é o mesmo que pessoas do outro lado do mundo chamarem apenas estufado a uma caldeirada, a uma jardineira e a uma feijoada.
A cultura gastronómica devia figurar logo nos primeiros anos do nosso sistema de ensino. Saber quais são os produtos locais de cada época e como os cozinhar é mais útil no dia a dia do que saber nomes de serras e rios. E saber que o que os outros comem é tão normal quanto o que nós comemos também.