A alimentação sempre esteve ligada à saúde e à forma como cuidamos uns dos outros. A origem da palavra restaurante vem dos espaços onde eram servidos caldos restauradores, que restituíam energia física e força anímica a quem estava em viagem.
Na cultura gastronómica portuguesa, o prato mais iconicamente ligado à ideia de recuperação e regeneração é, sem dúvida, a canja de galinha. É provável que uma grande percentagem das pessoas que habitam Portugal guardem com carinho memórias de mães, pais e avós que lhes faziam e serviam uma canja quando estavam doentes.
Adoro canja. Contudo, os nossos gostos evoluem e, com sorte, as pessoas à nossa volta conseguem aperceber-se disso e agir de acordo.
Esta sexta, fui com Anita tomar a terceira dose da vacina. Adivinhava-se um fim de semana de convalescença para ambos. No sábado de manhã liguei para a minha mãe e, já a contar com a dose generosa que nos poderia trazer, imaginem só qual foi o prato que fez para o almoço? Farrapo velho.
Ao longo dos anos tem subido constantemente no pódio dos meus pratos favoritos e ainda mais no pódio dos meus pratos restauradores. Não posso dizer que sou uma pessoa de gostos simples, mas posso dizer que há coisas simples que me satisfazem bastante. Pão com manteiga, ovos mexidos, sopa, cozido à portuguesa, farrapo velho.
Anita, tem a teoria de que sempre que pergunto à minha mãe o que vai fazer para o almoço ou jantar, ela automaticamente responde o nome de algum dos meus pratos favoritos, mesmo que não estivesse a planear fazer isso antes do telefone tocar. É o sexto sentido de mãe a perceber que o mais novo precisa de mimo.
Apesar de um ligeiro mal-estar, até estou bem. Resta-me tomar conta de Anita, totalmente derrubada por esta terceira dose. Sorte a minha, Anita restaura-se facilmente com coisas simples. De manhã já lhe fui buscar regueifa — de Leça da Palmeira, não de Valongo. Agora, a um molho de tomate oferecido por um grande amigo, vou acrescentar um pouco do meu molho de pimentos padrón lactofermentados, cozer uma massa curta italiana, envolver o molho na massa e servir com requeijão, num fio de azeite e orégãos. Se não sobrar para o jantar, faço outro dos favoritos de Anita — arroz branco com ovo estrelado. Cozinhar para quem amamos também é restaurador.