Hoje, o maior ato de rebeldia que podemos ter é assumirmos controlo sobre a forma como nos alimentamos. Ser punk nesta era moderna é plantar, pescar, apanhar o que a Natureza nos dá e resistir ao sistema capitalista.
O caminho para a liberdade é o caminho para a auto suficiência. Há tanta terra por cultivar de forma consciente e responsável.
É engraçado como alguém que cresceu com vontade de aprender tudo sobre tecnologia e que sonhava com um relógio que controlasse os semáforos, hoje se interessa por consociação de hortícolas. Hoje, sonho em hackear o mundo de outra forma fazendo do auto cultivo o ultimate cheat para uma vida livre. Sonho com o caminho para um mundo pós-capitalista no qual as pessoas se nutrem com alimentos reais e não com criações de laboratório mascaradas de comida. Haverá quem sonhe com um futuro em que a alimentação seja administrada por via de pastilhas nutricionais, eu não confio nessas pessoas nem quero esse futuro para mim. Apesar do meu fascínio pelo espaço e pela tecnologia, sempre fui mais de Flintstones do que de Jetsons.
Creio que o panorama atual da saúde global comprova que o nutricionismo não trouxe nada de bom para o nosso bem-estar, pelo contrário. Os nossos corpos não tiveram tempo para se adaptarem aos alimentos ultra processados e isso traduziu-se em dezenas de doenças. E ao juntar o nutricionismo à irreal noção de corpo ideal que o capitalismo impôs, temos como resultado inúmeros distúrbios alimentares.
Quero comida real que saia do mar ou da terra e não de uma linha de produção. As últimas gerações vivem com uma enorme iliteracia no que toca à proveniência dos seus alimentos e no que toca à fauna e flora autóctones dos lugares onde vivem.
Há alguns projetos que se debruçam sobre as inúmeras espécies de plantas selvagens comestíveis, como A Recoletora. Aqui, juntam-se botânicos, nutricionistas, chefs, artistas e designers, com o objetivo de dar a conhecer as plantas silvestres comestíveis que conhecemos como daninhas e a reabilitação da sua utilização. Na sua primeira atividade mapearam as espécies comestíveis presentes em quatro terrenos do Porto a Leça da Palmeira. Estou ansioso para que abram novos workshops e passeios guiados.
Este tipo de conhecimento do que nos rodeia é um património sem preço que o capitalismo e o comodismo atiraram para o desuso e para a obscuridade. É preciso resgatar toda essa sabedoria e liberdade. Quero ter o conhecimento de um caçador-coletor e alimentar-me como um anarca.
Garibaldi