Ana Fernandes tem 28 anos e é proprietária da Nonna Pasta Fresca. O seu projeto começou por levar massas frescas feitas de forma artesanal até casa das pessoas. A sua determinação e os produtos de qualidade têm garantido o crescimento consistente da marca que agora também protagoniza sublimes pratos de inúmeros restaurantes do Porto.
Como começou a tua jornada na cozinha?
Sou da área da saúde mas sempre me encantou o mundo da restauração, apesar de em criança/adolescente nunca me ter aventurado na cozinha. Em ambiente profissional, no meu anterior emprego, conheci o dono do restaurante Antiqvvm. Em conversa demonstrei-lhe o meu interesse em explorar o mundo da cozinha, quem sabe tirar uma ou outra formação, pois tinha a certeza que queria mudar de área profissional, só não sabia para qual. Posto isto, fui convidada pelo próprio a integrar a equipa de cozinha do Antiqvvm, num regime de voluntariado, uma vez por semana, após o meu horário de trabalho, com o propósito de conhecer o que é a vida numa cozinha profissional. Esta aventura durou um ano e foi sem dúvida o que me permitiu chegar onde estou hoje. Foi onde aprendi as bases de funcionamento de uma cozinha, foi onde tive o meu primeiro contacto com massas frescas, foi onde conheci o conceito de “lodo” e foi aí que percebi também que não queria ser cozinheira mas sim ter um projeto relacionado com cozinha.
O que te inspirou a abrires o teu próprio negócio [Nonna Pasta Fresca]?
Como disse, apesar de gostar da área da restauração, não me imaginava como cozinheira. A ideia da Nonna surgiu na pesquisa por algo que me permitisse abandonar a área da saúde e começar um projeto em casa. No Antiqvvm percebi que fazer massa fresca era um processo relativamente simples e que o produto era extremamente valorizado. Era também de extrema importância para mim criar algo que desse utilidade ao excedente de legumes que os meus avós produzem no seu quintal, daí as massas com sabores e cores.
Foi nesse momento que decidi despedir-me e começar a fazer massas sozinha, em casa.
Inicialmente a ideia seria fazer massas apenas para as pessoas cozinharem em casa, nunca me passou pela cabeça que passados 3 anos estivesse a fornecer mais de 25 restaurantes na cidade do Porto.
Quais têm sido os maiores desafios e o que mais te surpreendeu mais nesta jornada?
Os principais desafios foram a criação e sustentação de uma empresa. Infelizmente os encargos são enormes e são uma realidade muitas vezes desconhecida o que pode assustar e até impossibilitar a concretização de alguns projetos. Numa fase inicial também foi desafiador explicar às pessoas a diferença entre massa artesanal e as massas frescas comuns que encontramos nas grandes superfícies.
Considerando a forma como as grandes superfícies disponibilizam cada vez mais refeições rápidas com pouca qualidade nutricional, de que forma é que os produtos da Nonna podem servir os interesses e os desafios do consumidor contemporâneo?
As massas da Nonna têm valores nutricionais muito mais ricos dado o tipo de farinha utilizada, 100% sêmola de trigo duro italiana, e também porque muitas delas têm legumes na sua composição, na maioria das vezes, biológicos. Além disso, os queijos ou enchidos utilizados no recheio dos ravioli, molhos e kits são de origem italiana o que faz toda a diferença no produto final. Relativamente às refeições semi-prontas, o nosso mais recente produto, são produzidas de raiz na Nonna, com produtos cuidadosamente selecionados e nenhum dos nossos produtos contém conservantes ou corantes.
De onde vem a inspiração para criares novos produtos e menus do dia?
A inspiração surge muitas vezes das próprias pessoas que nos seguem nas redes sociais mas principalmente das pessoas que integram a equipa e dos nossos parceiros. Temos a sorte de trabalhar com restaurantes bastante criativos que nos incentivam a procurar por produtos/receitas diferenciadoras.
Os ingredientes locais desempenham um papel fundamental nos hábitos de consumo alimentar e dentro dos restaurantes. Quais são alguns dos teus ingredientes ou produtos regionais favoritos e como os utilizas nos teus pratos?
Na Nonna nunca faltam os produtos biológicos do quintal dos meus avós: espinafres, abóbora, alho, malagueta, manjericão... São eles que fazem realmente a diferença na cor das nossas massas, no próprio sabor e como já disse, até no valor nutricional.
A cozinha é uma forma de arte em constante evolução. Quais são as tendências gastronómicas que atualmente mais gostas?
Admiro conceitos que sejam fieis aos seus princípios. Que não procurem apenas atenção do cliente mas que tenham um conceito bem definido e que o defendam com consistência.
Para mim a cozinha é realmente uma forma de arte e, por isso mesmo admiro quem a trabalha com a consciência de estar a entregar algo ao cliente e não apenas como um veículo de alimentação do próprio ego.
Abriste a Nonna em 2020. Tens algum conselho para pessoas que aspiram trabalhar em cozinha ou abrir o seu negócio ligado à gastronomia?
O maior conselho que posso dar é que as pessoas estejam bem informadas e que experimentem a realidade da cozinha antes de se aventurarem. Que tenham um plano bem estruturado antes de começarem para que mais tarde não surjam frustrações nelas próprias, muito menos no cliente.
O que é gostavas que as pessoas soubessem sobre a Nonna Pasta Fresca? E que marca é gostavas de deixar para o futuro?
Que a Nonna é um projeto criativo e em constante evolução, composto por várias pessoas que me permitem todos os dias ir colocando essa criatividade em prática. É um projeto que cresce desde 2020 de forma saudável e sustentável, com base nas necessidades dos clientes e nas capacidades da equipa. Que é um projeto feito de e para as pessoas; acessível, sem grandes refinamentos e acima de tudo focado em satisfazer os apetites dos clientes.
A Nonna de hoje não é a Nonna que eu imaginei em 2020, é muito mais e espero que assim continue a ser.
Uma surpresa constante, até para mim. No futuro, imagino a Nonna como uma referência de massas artesanais e produtos italianos em Portugal. Claro que faz parte dos meus objetivos ter opções de refeições disponíveis todos os dias, mas sinceramente continuo sem me conseguir visualizar num restaurante com um funcionamento tradicional. Contudo, como disse anteriormente, somos uma equipa criativa e já com várias ideias a marinar para um futuro próximo.
O que é que mais gostas de fazer quando não estás a trabalhar?
Comer.
Qual é o prato ou produto que as pessoas mais te pedem?
Ravioli e lasanha semi-pronta.
O que é mais gostas de comer?
Sendo demasiado óbvio falar sobre massas, talvez vá para ovos. De todas as formas e feitios.
Onde levarias a jantar a equipa do Canal Pança?
Genuíno.