Há quem diga que vinho é vinho. Certo. Um copo à refeição, dizem os avós, faz bem ao coração. E há quem só fale do que sabe. Este claramente não é o meu caso.
Em fevereiro passado, Sara Roseira, responsável pela envergadura de produção que põe anualmente de pé o evento “simplesmente… Vinho”, convidou-me para moderar uma conversa. Com um painel constituído exclusivamente por mulheres, a intenção era falar sobre as histórias e heranças que contribuíram para o seu percurso no mundo dos vinhos.
Perante a oportunidade de conhecer mulheres inspiradoras, decidi ocultar da Sara a minha ignorância nesta matéria. Fiz-me de morta e fingi que dava conta do recado como se percebesse do assunto.
A Diana que faz as vindimas desde os 15 anos, achou-se certificada o suficiente para moderar uma conversa com quatro vigneronnes de um calibre que impõe respeito. De qualquer forma, sabendo que partilharia o palco com Filipa Pato, Aline Domingues, Leila Camizão e Núria Renom, decidi aprender o básico.
Se vós, como esta que vos escreve, pouco ou nada sabeis desta temática, deixo-vos com os resumos. É que os vinhos naturais estão na moda e nós não vamos ficar para trás.
Estes vinhos são uma categoria específica de vinho e são produzidos com o mínimo possível de intervenção no processo de vinificação. É comum que quem produz vinho natural opte por práticas de agricultura orgânica ou biodinâmica, evitando o uso de pesticidas e produtos químicos sintéticos, optando por métodos mais naturais para cuidar das vinhas.
Normalmente, os vinhos naturais são fermentados com leveduras selvagens presentes nas próprias uvas ou na adega, em vez de, à semelhança dos vinhos convencionais, usarem leveduras selecionadas.
Obviamente, por ser uma abordagem mais artesanal e menos controlada, os vinhos naturais podem ter uma variedade maior de sabores e aromas, uma vez que as leveduras selvagens podem variar de vinha para vinha e de região para região, refletindo muitas vezes as características do terroir em que foram produzidos.
Ao contrário dos vinhos convencionais, que costumam ter produtos químicos para preservar e estabilizar o vinho, os produtores e produtoras de vinhos naturais tendem a evitar a adição de produtos químicos e aditivos, como sulfitos (dióxido de enxofre).
Podemos ver uma garrafa de vinho natural e perceber que tem uma aparência turva ou ligeiramente ensombrada. Isso é porque muitos vinhos naturais não são filtrados ou clarificados para remover sedimentos. Esta é uma característica desejada para muitas pessoas que apreciam vinhos naturais.
Há quem aprecie os vinhos naturais por serem menos propensos a causar dores de cabeça e ressacas, devido à menor quantidade de sulfitos e outros aditivos. E há quem aprecie a ausência de produtos químicos na produção das uvas como um benefício para o meio ambiente e para a saúde dos solos. Há também quem, como a vossa amiga, aprecie a sua frescura inegável, as suas cores e aromas suaves, minerais e frutados.
É claro que depois de saber o básico, a curiosidade aumenta. E mais do que vos recomendar os meus vinhos naturais preferidos, acho prudente dar-vos também a conhecer os sítios e as pessoas que melhor vos podem guiar nesta viagem.
Podem começar pelo Gito - Natural Wine Bar & Bottleshop, um sítio inesperado na rua Mártires da Liberdade, onde poderão provar vinhos nacionais e internacionais, um copo a puxar o outro e a simpatia do Bruno Gouvêa a fazer-vos prometer voltar. Podem seguir até à Rua Miguel Bombarda e entrar no Genuíno, onde o menu serve comida do mundo, pelas mãos da chef Gabriela Johann, e muitas escolhas interessantes de vinhos naturais para acompanhar, cuidadosamente recomendados por Gustavo Schmidt. Se quiserem levar as vossas garrafas favoritas para casa é também na Rua Miguel Bombarda que encontram a Cave Bombarda - Natural Wine Shop - aos comandos de Jorge Azevedo.
Se encontrarem um Protótipo, um Quinta da Costa do Pinhão, um Menina d’Uva, um Sem Igual ou um Filipa Pato, façam um brinde em honra de todas as mulheres que produzem vinho em Portugal e bebam com moderação.